Encerra-se 2017 deixando uma lição dura, mas anunciada.
"É preciso que os produtores brasileiros lembrem que os preços atuais aqui praticados continuam descolados dos preços pagos em outros países. Isso deve ensejar alerta!
.. em 2017, quem estiver tomando banho nú, será descoberto, tanto produtores como indústrias. É o ano da verdade. Produtores que acham que o mercado lhes deve um preço Y porque seu custo é X começam a ceder espaço para os que entendem que preço é mercado e que sem produtividade e eficiência não há preço que pague.

Do lado da indústria, aquelas que continuam com as velhas práticas de abandonar princípios quando falta matéria-prima, de queimar dinheiro sem um programa de desenvolvimento e suporte para seus produtores, de expandir bacia de captação sem intensificar a atual, já estão mal neste momento e se verão ainda mais apertadas em 2017.

Cresce gradativamente a proporção de produtores com um sistema eficiente e totalmente compatível com a volatilidade de preços que temos testemunhado. Veremos muitos casos se multiplicarem, pois mesmo neste segundo semestre de 2016, suas margens continuam altas. Dois mil e dezessete será o ano destes produtores." (Link para Prospectiva 2017: Ano da verdade)
 Qual foi a reação que percebemos?

Os bons produtores seguiram no caminho da especialização e aprimoramento de sua gestão e se dedicaram em colocar dinheiro e esforços naquilo que nós e outros colegas e instituições que trabalham na mesma linha indicamos, buscando aumento de produtividade, com menor custo por litro, mesmo gastando mais por mês ou ano (isso é algo para poucos entenderem). 

Os tradicionais ficaram ainda mais preocupados, se dedicando a exigir do governo aquilo que este não pode, não deve e não vai oferecer. Perderam tempo e deixaram de fazer o dever de casa. Quando tentaram, comprometeram ainda mais recursos em coisas que não trazem 1 litro de leite extra, agravando ainda mais seu fluxo de caixa.

O que vimos ao longo de 2017

O acirramento de um processo de seleção previsto e necessário. As "tranqueiras", os "tiradores de leite", os incrédulos, os que atiram para todo lado sem foco nem profissionalismo, os que só reclamam sem abrir os olhos, ouvidos e mente, os que tentam puxar os outros para trás, com postagens negativas nas redes sociais, sem fazerem sua parte, cairam fora da atividade em massa.

Experiências para tirar do ano que se encerra
  • ► Reforça-se a afirmação que temos feito de que "leite não é para qualquer um!"
  • ► Investimentos em confinamentos de 30-40 vacas, com 22-25 L/VL/dia de média, não se pagam, e são a maioria! Investir em estrutura e depois não ter um profissional que oriente dieta, aceitando médias baixas? Confinamento é 100% cocho. Não tem "jogo de corpo" para a vaca compensar erros. Quem investe em confinamento e não tem orientação em dieta é um desinformado. E, se ainda por cima, tal investimento levou a cortes em fertilizante, semente ou ração, é alguém que está ou estava perdido.
  • ► É possível sobreviver com margem nos períodos difíceis. Não é agradável, tudo fica mais apertado, mas só quebra quem não sabe que leite é conversão de comida em quantidade e qualidade, pela vaca. Tudo, tudo o demais é aparato para gerar e permitir o consumo dessa comida. Saiu disso, tem que ser bem pensado, planejado e na hora certa.
  • ► Nunca investir contando com preços altos para pagar as contas! Receita certa para quebrar.
  • ► Assistência técnica de qualidade, responsável, preocupada com os interesses do produtor, vale muito mais que um aceno temporário de aumento no preço do leite. Não abandone a empresa ou a cooperativa que está, visível e comprometidamente, lhe auxiliando a crescer, simplesmente porque uma outra lhe ofereceu preço momentaneamente melhor. Isso é burrice em alto grau. Todos produtores que estão quebrando ou quebraram agora são dessa mentalidade, a do leilão do leite.
  • ► Entenda de mercado, pelo menos saiba que UHT, queijo e pó determinam preços ao produtor e que, dependendo do mix de produtos de sua empresa, ela irá ter capacidade diferente de lhe pagar, às vezes subindo/descendo à frente das outras, às vezes atrás. Esse descompasso é do mercado, não é "sacanagem". Cobre, exija, fiscalize, mas conheça sua empresa e o mercado dela. Você faz parte disso. É uma bicicleta de dois acentos. Um é seu, o outro é da indústria. Pedalem juntos! E esse recado vale para as indústrias descomprometidas com o produtor, também.

O que estamos percebendo e o que recomendamos para 2018

No momento que escrevemos este artigo, os indicadores nacionais e internacionais nos levam à seguinte prospectiva para 2018, com fins unicamente de planejamento:
  • ► Deveremos ter uma recuperação, pelo menos parcial, no consumo doméstico de lácteos, fruto de uma continuidade na recuperação da economia, sobretudo pela inflação baixa, juros em queda, com recuperação de empregos.
  • ► Os preços internacionais devem continuar a se recuperar, passado um período de indecisão. Preços futuros de hoje já indicam recuperação para janeiro (talvez 4% na Oceania), parte pela seca na Nova Zelândia e parte pela perspectiva de retomada da demanda chinesa. Isso não significa aumento aqui.
  • ► O petróleo subiu de US$40 para US$60 o barril em 2017 e, historicamente, há uma correlação deste com o preço das commodities lácteas.
  • ► Nossa grande dúvida é no campo político brasileiro. Lava Jato não pode parar, condenações têm que ser ratificadas e expandidas e o próximo presidente precisa ser comprometido com desoneração e enxugamento da máquina pública, com mínima intervenção nas atividades privadas. Acreditamos que isso deverá se confirmar e apostamos neste cenário. Um presidente populista keynesiano, agora, colocaria tudo a perder.
  • ► Para fins de planejamento, apenas, sugerimos que se considere uma recuperação de US$0,05/L no preço ao produtor para volumes abaixo de 300L/dia e de US$0,10 para volumes acima de 1.000L/dia, na média de 2018 frente à média fechada em 2017 (válido se o dólar ficar entre R$3,00 e R$3,50).
  • ► A indústria e suas associações precisarão investir pesado em promoção do consumo doméstico em 2018. É necessário reverter o quadro de retração que, além do efeito renda deprimida, teve um efeito de percepção negativa gerado por movimentos de anticonsumo.
  • ► Mesmo num cenário positivo como parece, o produtor previdente não deve contar com preços melhores, buscando colher e poupar parte de uma maior margem.
  • ► Quem está bem e tem recursos para investir (acredite ou não, lidamos com muitos nessa situação), deve investir agora, imediatamente. Este é o momento.



O que vislumbramos para o final de 2018

Com tudo que a cadeia passou de 2015 a 2017, uma verdadeira montanha russa em preços, custos e margens, temos hoje um perfil já diferente de produtores, mais profissionais, mais focados, mais entendedores de mercado e com as rédeas na mão. Esta seleção continuará em 2018, pois uma fatia grande, hoje, precisaria pelo menos R$0,20/L, de imediato, para cobrir apenas o desembolso. Os que estão nessa situação, por não terem conseguido dominar o processo até agora, muito provavelmente deixarão a atividade nos próximos meses.

Algumas indústrias também mostrarão, em 2018, o abalo que sofreram em 2017. Neste momento, a maioria delas opera com margens negativas ou muito reduzidas, sobretudo em UHT e pó. Muitas delas precisariam ter reduzido ainda mais o custo da matéria-prima (sobretudo preço de compra), mas não conseguiram graças à concorrência que temos no campo. Esta concorrência é o maior patrimônio que temos no setor. É ela que força empresas a buscarem eficiência e no ano que se inicia isso se intensificará ainda mais.

Depois do acirramento na seleção natural por produtores mais eficientes, o que de mais impactante tivemos foi o surgimento de uma sintonia que não existia no setor. Todos os elos da cadeia láctea hoje conversam, sentam à mesa, compartilham de ideias em fóruns regionais e nacionais e de forma muito positiva e construtiva.



Largou-se a ideologia política de um segmento social para se abraçar a causa da cadeia produtiva do leite como um todo. Isso é maturidade! A experiência passou a falar mais alto. Os países que hoje são fortes no leite, todos passaram por isso e, ao chegar nesse ponto, encontraram solo fértil para criarem mecanismos de planejamento, de contratos, de enfrentamento de crises, entre outros. Acreditamos que 2018 será o ano para este tipo de ações. O terreno está aplainado para isso, basta cada um e cada representação fazer sua parte, com altruismo, visão de futuro, transparência e desprendimento.

Sejamos gratos pela experiência que 2017 nos propiciou e que 2018 nos permita crescer juntos, todos que se enxergam como parte da complexa engrenagem que comandamos.