Produtor em Santa Clara do
Sul, no Vale do Taquari, João Célio Konradh vendia a produção diária de 400
litros para a Pavlat, com sede em Paverama. Há quase dois anos, ficou sem
receber pelo volume de um mês e acumulou R$ 7 mil em créditos. Diante da
situação, foi orientado pelo transportador de leite a entregar a produção para
a empresa Promilk, de Estrela. Ainda sem receber o dinheiro que já deveria ter
sido pago anteriormente, viu o saldo saltar para R$ 25 mil neste ano depois de
sofrer novo calote.
— A Promilk pagou apenas uma parte de agosto. Do leite entregue em setembro e uns dias de outubro não vimos a cor do dinheiro — lamenta Konradh, 49 anos, que teve de compremeter parte das economias para pagar as contas e a faculdade da filha. Ao lado da mulher Lovani Konradh, 45 anos, o produtor trabalha com a atividade leiteira há 25 anos. Dos 36 animais, sendo 19 vacas em lactação, a família tira 90% da renda da propriedade, que tem ainda 12 hectares de milho e pastagem de azevém e aveia. — É um dinheiro que a gente conta certo no fim do mês — diz o produtor, que passou a entregar a produção de leite para a Cosuel, de Encantado. Nas regiões onde há mais de uma opção de venda, a escolha da indústria para entrega do leite muitas vezes é influencia pelos transportadores. — A relação do produtor é mais direta com o transportador do que com a indústria — explica Darlan Palharini, secretário-executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Estado (Sindilat-RS). Sobre as dívidas acumuladas com produtores pelas cinco empresas de laticínios, Palharini salienta que os casos mais críticos são daquelas que não têm patrimônio suficiente para cobrir a totalidade dos débitos: — Nos outros casos, embora possa demorar um pouco, o produtor vai acabar recebendo — avalia Palharini. O que dizem as empresas devedoras: Promilk A empresa alega que começou a atrasar o pagamento em agosto quando deixou de receber de três unidades da LBR, onde entregava parte do volume que recolhia. Conforme o advogado Jairo Cocconi, a Promilk tem R$ 11,1 milhões para receber da LBR. Segundo Cocconi, a maior parte das dívidas da empresa é com bancos. Os débitos no campo somam cerca de R$ 10,5 milhões e envolvem 3,5 mil produtores. O advogado salienta que a empresa tem patrimônio suficiente para pagar as dívidas e só entrou em recuperação judicial por ter sido vítima de inadimplência. Laticínios Hollmann No processo de recuperação judicial constam 587 produtores com valores a receber, somando R$ 2,3 milhões. O advogado Alexander Froemming diz que a empresa pretende negociar os débitos por meio da geração de recursos com o arrendamento da unidade e subsequente venda da indústria, conforme previsto no plano de recuperação. Ainda segundo o advogado, a empresa está retomando as atividades através de arrendamento da unidade. Laticínios Mondaí A empresa afirma que começou a atrasar pagamentos na segunda quinzena de agosto, após interdição das unidades pelo Ministério da Agricultura, dentro da operação Leite Adulterado. Conforme o advogado Antonio Paulo Bertani, a Mondaí tem débitos com 2,1 mil produtores no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, somando cerca de R$ 8 milhões em dívidas. Já foram ajuizadas em torno de 500 ações de cobrança. Os bens foram bloqueados pela Justiça. Segundo Bertani, não está descartada a possibilidade da empresa pedir recuperação judicial. Pavlat A empresa entrou com pedido de autofalência há duas semanas. Conforme o advogado da empresa, Telmo Antônio Salla, o pedido de recuperação judicial nem chegou a ser requerido diante das dificuldades acumuladas após a operação Leite Compen$ado, em maio deste ano. A partir de então, os credores deverão se habilitar para reaver os valores devidos dentro do processo de falência. LBR Procurada, a empresa não se manifestou. |