Carne para saciar o apetite chinês
Fim do embargo à proteína bovina e crescente avanço dos negócios de aves são vistos como oportunidade para o Brasil diversificar a pauta com país asiático e reduzir dependência da soja.

País de dimensões continentais, a China vem ampliando vorazmente a importação de produtos agropecuários gaúchos e brasileiros, com negócios crescendo, em média, 26,1% e 23,8%, respectivamente, nos últimos 10 anos. O avanço se dá, em especial, pela expansão da soja, mas está longe de significar que a curva ascendente do apetite chinês bateu no teto. Pelo contrário, as portas entreabertas ou fechadas a alguns setores fazem dos asiáticos um mercado de potencial superlativo.

Um dos setores que projeta retomada é o da carne bovina. No fim de maio, acordo assinado entre a presidente Dilma Rousseff e o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, pôs fim ao embargo à importação da proteína brasileira, que vigorava desde dezembro de 2012. O anúncio da liberação de oito frigoríficos em maio, incluindo um no Estado (Marfrig, em Alegrete), animou o setor.

Segundo o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Antônio Jorge Camardelli, a expectativa é de o país embarcar pelo menos 60 mil toneladas até o fim do ano, volume 253% superior ao exportado em 2012. Mais nove plantas podem ser habilitadas ainda neste mês, incluindo outra unidade da Marfrig no RS, em Bagé.

A reabertura do mercado chinês foi um presente de Natal antecipado. Cremos que, em 2016, a China estará entre os três maiores importadores da carne bovina brasileira. É um mercado perene, que paga bem. Temos de ser responsáveis com a manutenção do status sanitário diz Camardelli.

Na avaliação do presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Rio Grande do Sul (Sicadergs), Ronei Lauxen, em um primeiro momento, o fim do embargo à carne bovina deve ter "resultado tímido" no Estado. Isso porque os frigoríficos gaúchos argumentam que há escassez de matéria-prima e dificuldades para abastecer o mercado interno. No primeiro quadrimestre de 2015, houve queda de 8% nos abates, pois muitos pecuaristas reduziram a produção para investir em soja.

Com 1,36 bilhão de habitantes, quase 20% da população do planeta, a China tem um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 9,24 trilhões mais de quatro vezes do que o brasileiro. Além da soja, é o maior consumidor mundial de arroz e carne suína, setores ainda inexpressivos na pauta de exportações do agronegócio gaúcho, mas que esperam mudar essa condição.

 

MISSÃO OFICIAL EM PAUTA


Apesar de ter uma planta habilitada, o Estado não exporta carne suína desde 2006 à China, que é o principal produtor mundial. Diretor-executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Suínos do RS (Sips), Rogério Kerber diz que o motivo é que, como os chineses não compram cortes e preferem mercadorias de baixo valor agregado, como miúdos, as empresas têm optado por mercados que paguem melhor: Se houver queda na produção e migração da população rural para áreas urbanas, no médio e longo prazo há possibilidade de a China virar um mercado mais atrativo.

De olho em oportunidades, o governo estadual planeja fazer ainda em 2015 uma missão ao país para tentar alavancar as vendas externas.O mundo alimentar avança para a Ásia e a África. A Ásia, em especial, está em crescimento acelerado. As pessoas estão saindo da pobreza e convertendo essa melhor condição econômica em melhor condição alimentar avalia o economista- chefe da Federação da Agricultura do RS (FARSUL), Antônio da Luz.

Fonte: Cleidi Pereira , Zero Hora